quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Passado perpétuo

Como explicar essa constante onda contemporânea de retorno ao passado? Será incapacidade de pensar o novo ou necessidade de contar o futuro a partir do que já aconteceu? Talvez nenhuma das alternativas, quem sabe o anacronismo esteja relacionado à rentabilidade que o passado representa, principalmente, para a indústria cultural. Dizem que a arte reflete a realidade de seu tempo, mas quem olha a nossa arte atual vê o reflexo de outros tempos que convergiram nessa loucura chamada pós-modernidade. A indústria da cultura só vem ratificar o que Featherstone disse a respeito do consumo sobrepondo a produção.

Nessa atualidade mista, talvez a única fonte de referência seja o passado que, nesse contexto, torna-se comercializável. Como constatar isso? Simples, vá ao cinema, assista TV, os remakes, a moda retrô, o mesmo discurso socialista apaixonado juvenil, as fotos do Che, os ideais da Revolução Francesa, não parece que tudo que está na tela já foi visto antes? Não nego a tecnologia e os avanços que o mundo conquistou nos últimos tempos, apenas ratifico a nostalgia constante que o ser humano vivencia e que, de certa forma, não quer se desvincular. By the way, bem-vindo à idade das velhas novidades.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Reprise nas urnas

Até que ponto o voto reflete o direito de escolha? Exercício da democracia, defesa ideológica, esperança de mudança...tudo parece balela quando na verdade o voto só vem ratificar a manutenção das mesmas hegemonias vergonhosas que governam o nosso país. É revoltante pensar um Estado mais justo, acreditar que existe saída e assistir a mesma omissão, o mesmo conformismo, a mesma crença cega nas pessoas erradas, e o que é pior, nas pessoas que todos sabem serem erradas. Prova disso é a eleição municipal em Belém, ou melhor, o circo eleitoral cujos palhaços assistem sentados e calados ao show principal. Os debates televisivos são reflexo desse espetáculo que, diga-se de passagem, é um ótimo programa cômico. Parece piada que durante os debates estão discutindo o futuro da nossa cidade. Todos aqueles bordões ridículos, o “lero lero”, o “você não vai fazer” ou o “você não fez nada” só tornam mais distante a discussão de propostas concretas para a melhoria comum. Gostaria de dizer que o cinismo dos candidados é surpreendente porém, já não me surpreende mais, virou reprise. Qual a saída para a descrença total? Votar nulo? Não sei, uma opção discutível. Votar no menos pior? E se não houver? A minha única certeza é que não quero participar da vitória de um candidato que não considero ético, que vai de encontro aos meus princípios morais. Talvez a saída seja não estimular o ceticismo que aflora dentro de cada cidadão e tentar acreditar que um dia muda, do contrário seremos mais alguns na massa conformista que elege a velha repetição.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Projeto “Maquetes em Miriti” une arquitetura e identidade cultural

A união entre matéria-prima local, história e criatividade culminou na iniciativa do Instituto de Artes do Pará (IAP), intitulada "Maquetes em Miriti: a arte popular como instrumento de educação patrimonial". O projeto, selecionado pelo Ministério da Cultura e aprovado pela UNESCO, propõe o resgate do patrimônio histórico de Belém a partir da produção de maquetes em miriti.

O projeto é desenvolvido por graduandos de Arquitetura, pertencentes a diversas instituições de ensino superior e funciona por meio de pesquisas de campo e laboratório prático, sediado no Fórum Landi. Dos 40 alunos inscritos para participarem do laboratório, 20 foram selecionados e, desse número, 50% são estudantes da UFPA. O aluno Igor Tairo, que cursa o sexto semestre de Arquitetura na Universidade Federal, participa do projeto pela primeira vez. “Temos pouco contato com a parte de produção de maquetes no curso de Arquitetura, então, quando soube da proposta do IAP, mudei meu turno de estudo para poder participar”, revela o estudante.

O coordenador do projeto e gerente de artes visuais do IAP, Armando Sobral, conta que a proposta surgiu há 3 anos, no curso de Arquitetura da UFPA, dentro da disciplina “Representação e Expressão IV”, quando Sobral era professor na Graduação. “Considero que o mais importante, nesse projeto, é poder atribuir um valor de identidade e permitir que as tradições populares participem do processo de formação dos alunos. Além disso, há a dimensão ética que nos leva a respeitar a arte popular como reserva legítima de conhecimento”, ressalta o professor.

Armando explica que a proposta nasceu no espaço de livre criação artística do Atelier de Artes da UFPA que, em 2005, ocorria aos sábados. “Nós nos encontrávamos regularmante para praticar o desenho e discutir sobre diversos temas relacionados à arte. Após finalizar um ciclo de atividades, um grupo sugeriu o trabalho com o miriti. Achei a idéia boa, mas argumentei que precisaríamos pensar um programa aplicado ao curso de arquitetura”, disse. Armando conta que a partir da sugestão veio o “insight” da utilização do material para a produção de maquetes, “propus estudos dos prédios históricos de Belém e, pelas carcterísticas construtivas, os exemplares da arquitetura de ferro eram os que mais se adaptavam ao que pretendíamos estudar”, relata.

O professor fala que, posteriormente, convidou o mestre Ricardo Andrade para trabalhar como instrutor no projeto, considerando o vasto estudo do artista plástico, aplicado à criação de estruturas em miriti. Sobral afirma que a dimensão simbólica do uso desse material funciona como um instrumento de conscientização social, além de ser um exercício lúdico de aprendizagem.

“Maquetes em Miriti: a arte popular como instrumento de educação patrimonial” tem rendido frutos tão positivos que, a partir de 20 de outubro, iniciará uma nova fase. O projeto percorrerá escolas públicas, promovendo exposições e uma programação voltada à educação patrimonial. A “Semana Memória Viva na Escola”, como foi nomeada, contará com painéis didáticos e exibição audiovisual comentada, além da distribuição de cartilhas informativas sobre a preservação do patrimônio histórico de Belém. Outro fator importante é a apresentação cartográfica local aos alunos, que poderão conhecer os sítios de preservação da capital paraense. “Essa identificação com a cultura leva imediatamente ao reconhecimento da memória do nosso patrimônio; tudo isso nos faz fortalecer o vínculo afetivo com a cidade”, finaliza Armando.




Texto: Tamiles Costa